quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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A ANDARILHA


Era uma vez uma mulher que andava pelas ruas e florestas. Era jovem de aparência e ao mesmo tempo antiga como o tempo. Carregava consigo uma mochila onde guardava seus bens mais preciosos. Ainda que tivesse muitos amigos e conhecidos preferia caminhar sozinha, admirando a paisagem, o sol, a lua...
Uma noite, cansada de caminhar, chegou a uma encruzilhada, no centro de uma floresta, sem saber exatamente que direção tomar resolver descansar um pouco e admirar a noite. O céu estava claro, as estrelas mais brilhantes do que conseguia recordar, e no centro do céu a constelação de Órion a observá-la. Embriagada pelo momento, sentindo-se plena e em paz, adormeceu.
Sem perceber o tempo passado acordou com um barulho estranho... Curiosa como sempre fora, resolveu averiguar do que se tratava, tudo para ela era uma aventura e a possibilidade de aprendizado.
Seguindo o som embrenhou-se na floresta, por alguns instantes parecia estar muito próxima, em outros, completamente distante, mas sem desistir, continuou sua busca. O som foi aumentando e parecia vir de dentro de uma grande pedra... Ainda sem conseguir encontrar sua resposta aproximou-se cada vez mais até perceber que se tratava em realidade de uma caverna. Era estranha, ao mesmo tempo em que parecia escura e profunda possuía luz própria, o que lhe permitia ver o que acontecia em seu interior. Extasiada pelo que vira, não percebeu a aproximação de um homem, assustando-se quando esse lhe tocou o ombro. Era um homem jovem, alto, magro, e fazia sinal de silêncio, esboçando um sorriso confiável. Ficaram por quase uma hora apenas observando o que se passava naquela estranha caverna. Ainda em silêncio o jovem homem segurou sua mão levando-a para longe dali. Quando não mais avistavam a caverna, a Andarilha, no ímpeto de entender o que vira, perguntou ao jovem:
A - Quem são aquelas mulheres? O que elas estavam fazendo? Porque elas não têm olhos?
H – Calma! Aquelas mulheres são as filhas da noite, as guardiãs da vida, tecem o destino dos homens. Não possuem olhos porque sua visão não é física, para elas não importam as formas, apenas os registros internos.
A – A primeira tecia o fio, a segunda o esticava e a terceira? O que ela tinha no lugar das mãos?
H – Uma tesoura! A terceira corta o fio quando a vida se extingue.
A – Como assim?
H - Quando alguém morre no plano físico, passa para o mundo astral, e para que isso aconteça o fio é rompido.Enquanto conversavam continuaram a caminhar chegando a encruzilhada onde ela adormecera.
A – Então essas mulheres são as Guardiãs do Destino dos homens? Tudo já está pré-destinado?
H – É quase isso!
Sorrindo ele continua sua explicação:
H – A Primeira mulher não tece o fio da vida em uma Roca qualquer, essa é chamada de Roda Cármica e a partir do seu giro alguns homens podem renascer, outros não, tudo vai depender de uma série de fatores planetários, que elas conhecem muito bem. Quando um homem nasce, ele tem seu destino, suas metas, seu porque de renascer, isso pode variar muito de pessoa para pessoa, pois nunca o nascimento é obra do acaso. A segunda Mulher, que estica o fio, vai determinar os lugares, as pessoas e as circunstâncias em que os renascidos vão construir suas vidas de acordo com seus históricos cármicos.
A – Então não podemos alterar nada? Elas decidem tudo de acordo com nosso passado?
H – Eu disse que é quase isso! Vou te explicar melhor. Olhe a estrada a sua frente, o que vê?
A estrada era diferente de quando chegara naquele lugar, o que antes era uma encruzilhada agora era uma reta sem fim e no mesmo instante que era de terra, parecia ser de pedras douradas, alternando-se em sua visão.
A – Vejo uma única estrada e ao mesmo tempo parecem ser duas, uma de terra e a outra de pedras douradas.
H – Isso mesmo, essa é a diferença, consegues perceber?
A – Não! Porque parecem duas?
H – Na realidade é apenas uma, mas o que determina se ela será de terra ou de pedras douradas são as escolhas que fizemos, aquilo que levamos conosco e o que somos capazes de adquirir no caminho.
A – Como assim?
H – Nessa estrada muitas vezes serás ferida por aqueles a quem ama, sofreras doenças, sentirás falta de muitas coisas. Vais tropeçar em pedras que não verás, vais cair e levantar e a diferença está no que carregas em tua bagagem e das escolhas que fizeres a cada momento. As pessoas podem acrescentar elementos em tua bagagem e elas por si só fazem parte de teu caminho, mas o que construirás com elas é de tua escolha. O amor e o ódio, o ressentimento e o perdão, a ignorância e o entendimento, são o que fazem parte de nossas escolhas. Podes cair no chão e ficar lamentando a queda, culpando alguém, mas podes cair e tentar entender porque não percebeu a pedra, entender que mesmo ela faz parte de teu caminho. Podes ser ferida, magoada e te defender, revidando e magoando da mesma forma, ou até mesmo, com mais intensidade, mas podes tentar perdoar, entender e ajudar quem te feriu, tudo são escolhas, o tempo todo.
A – Então é isso! Somos responsáveis por nossas escolhas mesmo que não se saiba o por que de nossas vidas.
H – Sim, é isso. Tuas escolhas vão determinar os giros da Roda, e o que vais carregar ou não em tua bagagem. Podes chegar no final da estrada com uma bagagem rica e plena de realizações, ou pode levar consigo apenas as faltas e dores sofridas. A maioria das pessoas possui uma mescla das duas coisas, assim como a estrada que se alterna à tua frente.

Sentindo-se desconfortável, com dores no corpo, ela acorda. Percebe que o Sol já estava alto e custa a entender o que se passou. Levantando-se devagar, continuava na mesma encruzilhada, mas não existiam dúvidas sobre qual caminho seguir. Pegou suas coisas pôs-se a caminhar, relembrando sua experiência olhava para o chão e via a estrada alternado-se, as pedras douradas eram lindas e o Sol as faziam mais brilhantes que no seu sonho. Entendeu que teve um lindo encontro com as Senhoras do Destino e agradeceu com a força de todo seu Ser por esse momento, dando-se conta que não sabia quem era o homem que tanto a ensinou e foi então que a intuição pulou de sua mochila e lhe disse ao ouvido: - Livre-arbítrio!
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Um comentário:

Suzana disse...

Adoro ela... (mais tu)!