segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Antagonismo


"Ela não tinha necessidade de olhos, pois nada havia para ser visto; nem de ouvidos; pois nada havia no exterior para ela escutar. Não havia ar circundante que precisasse ser inspirado, nem necessidade de nenhum órgão mediante o qual suprir-se de alimento ou livrar-se destes quando digeridos. Porque nada se segregava dela, assim também como de lado algum algo a ela se agregava – já que não existia. Porque, em virtude de sua engenhosa estrutura, ela faz da sua decomposição a fonte da sua própria alimentação e todo sofrer e fazer só se realizam nela mesma e por si mesmos. Porque a auto-suficiência – assim achava a sua construtora – era para ela muito melhor do que a necessidade que precisa dos outros."

(Platão)
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"E, todavia, no íntimo da besta tépida e vigilante, há o peso e a inquietação de uma grande melancolia. Porque também à besta, sempre se adere aquilo que muitas vezes nos subjuga – a memória, como se aquilo por que ansiamos um dia já tivesse estado mais perto e mais fiel e o seu contato infinitamente terno. Tudo é distância aqui. Lá, era alento. Depois do primeiro lar, o segundo parece ambíguo e borrascoso. Ó enlevo da pequena criatura que permanece sempre no ventre que a gerou! Feliz do inseto que, no dia de suas bodas, ainda saltita no ventre – porque o ventre é tudo. Mas, para o que se tornou um ego, vigora outra coisa: Isso é chamado destino: estar oposto e sempre mais em oposição."

(Rilke)
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Um comentário:

Suzana disse...

Perfeito!