terça-feira, 27 de maio de 2008

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Nos calcanhares de Dionísio
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"A natureza suplantando a mente e precipitando-a para fora do estado de autoconsciência clara (cujo símbolo mais perfeito é o vinho) é o que jaz na base de todas as criações dionisíacas. O ciclo das formas dionisíacas, que constitui, por assim dizer, um Olimpo especial e diferente, representa essa vida natural e seus efeitos na mente humana, concebida em diferentes estágios, às vezes em formas mais nobres, às vezes em formas menos nobres; no próprio Dioniso desdobra-se a mais pura florescência, combinada com um afflatus que desperta a alma sem destruir o tranqüilo jogo dos sentimentos. "
(Karl Otfried Muller, um filólogo e mitologista clássico do século XIX)


Dionísio configura a imagem do impulso misterioso dentro de cada um de nós, aquilo que nos impele para o desconhecido. Nosso lado conservador, cauteloso e realista observa horrorizado esse espírito jovem e indomado, que confia na providência e que se prepara para saltar num abismo sem um mínimo de hesitação. Representa o impulso irracional que provoca mudança, a abertura de caminhos e a ampliação dos horizontes desconhecidos. Os impulsos irracionais em algumas circunstâncias são muito criativos, em outras, contudo, são destrutivos e, na maior parte das vezes são as duas coisas ao mesmo tempo.
Especificamente é deus do vinho, das festas, do lazer, do prazer, do pão e mais amplamente da vegetação, um dos mais importantes entre os gregos e o único deus filho de uma mortal.


Nas lendas romanas, Dioniso tornou-se Baco, que se transforma em leão para lutar e devorar os gigantes que escalavam o céu e depois foi considerado por Zeus como o mais poderoso dos deuses.
É geralmente representado sob a forma de um jovem imberbe, risonho e festivo, de longa cabeleira loira e flutuante, tendo, em uma das mãos, um cacho de uvas ou uma taça, e, na outra, um tirso (um dardo) enfeitado de folhagens e fitas. Tem o corpo coberto com um manto de pele de leão ou de leopardo, traz na cabeça uma coroa de pâmpanos, e dirige um carro tirado por leões.

Também pode ser representado sentado sobre um tonel, com uma taça na mão, a transbordar de vinho generoso, onde ele absorve a embriaguez que o torna cambaleante. Às mulheres que o seguiam como loucas, bêbadas e desvairadas se dava o nome de bacantes.
É considerado também o deus protector do teatro. Em sua honra faziam-se ditirambos na Grécia Antiga e festas dionisíacas.

Segundo o mito, Dionísio ordenou a seus súditos que lhe trouxesse uma bebida que o alegrasse e envolvesse todos os sentidos. Trouxeram-lhe néctares diversos, mas Dionísio não se sentiu satisfeito até que ofereceram o vinho. O deus encheu-se de encanto ao ver a bebida, suas cores, nuances e forma como brilhava ao Sol, ao mesmo tempo em que sentia o aroma frutado que exalava dos jarros à sua frente. Quando a bebida tocou seus lábios, sentiu a maciez do corpo do vinho e percebeu seu sabor único, suave e embriagador. De tão alegre, Dionísio fez com que todos os presentes brindassem com suas taças, e o som do brinde pôde ser ouvido por todos os campos daquela região. A parti daí, Dionísio passou a abençoar e a proteger todo aquele que produzisse bebida tão divinal, sendo adorado como deus do vinho e da alegria.


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